ENTRE PARADOXOS E PRESSÁGIOS
Manuel Maria Carrilho
A época que vivemos caracteriza-se sobretudo pelo atordoamento dos cidadãos e pela desvitalização da democracia. Não admira, pois, que se multipliquem os paradoxos mais inesperados, como os que hoje atingem a juventude, a política ou a Europa.
O paradoxo da juventude: nunca como hoje os jovens estiveram tão no centro de todas as atenções, no foco de todas as publicidades e no âmago de todas as retóricas, dando forma a um inédito juvenilismo que aparece como a milagrosa e caleidoscópica grelha de tudo o que aspira a ter valor.
E, contudo, o paradoxo impõe-se: também nunca como hoje a juventude – ou melhor, os jovens, o que não é bem a mesma coisa – enfrentaram uma sociedade tão opaca, tão bloqueada e tão inacessível. Como se o juvenilismo das sociedades contemporâneas ocidentais se tivesse tornado no principal inimigo dos jovens.
É a intuição deste conflito cada vez mais agudo que Eleni Krietsepi exprime bem quando, no vídeo que acompanha a exposição, diz que ser jovem na Grécia é “estar sempre a tentar não fazer parte desta cultura”.
O paradoxo da política: aqui o paradoxo nasce, não da tensão entre a hiperbolização e o bloqueio, mas da desconfiança. Por todo o lado a política segrega hoje doses letais de suspeita e de desafecção em relação a todos os seus agentes e protagonistas, que vão muito – mas mesmo muito – para lá da chamada crise da representação.
E, contudo, não emerge nenhum outro modo de articular o individual com o colectivo, como se a expressividade individual minasse constantemente todas as formas possíveis de potência colectiva. Nunca houve tanta liberdade, mas também nunca houve tanta impotência.
O paradoxo da Europa: este paradoxo nasce de uma ilusão e fecha-se com uma denegação. A ilusão é a da solidariedade, da convergência e do crescimento. A denegação, é a do egoísmo, da divergência e da regressão.
Como já tenho afirmado, se a Europa vier a colapsar, será fácil indicar onde o desastre começou: foi na absurda invenção das “troikas” e dos “memorandos” com que, em 2010, se decidiu responder ao excessivo défice orçamental grego e à gigantesca dimensão do seu endividamento. Faltou então discernimento aos responsáveis políticos europeus, que tudo confundiram numa vertiginosa sucessão de diagnósticos errados e de cálculos estritamente nacionais, que naturalmente só podiam conduzir a soluções ineptas, ou mesmo suicidárias.
É esse o ponto da bifurcação decisiva, talvez fatal, entre a solução solidária e o descartar calculista, que o trabalho de Pauliana Valente Pimentel “Jovens de Atenas” regista com uma evidência tão sóbria como apreensiva.
Inspirando-se numa memorável letra de Chico Buarque e de Augusto Boal, “ Mulheres de Atenas” (1976) – Pauliana Valente Pimentel percorre estes paradoxos do nosso tempo com uma invulgar acuidade, tanto nas fotografias que fez como no vídeo que realizou, apelando a uma reflexão profunda e audaz sobre o que aconteceu para que os jovens de Atenas, tal como as mulheres cantadas por Chico Buarque, “não tenham sonho, mas apenas presságios”.
O FUTURO RESIDE NO PRESENTE
Leonidas Chrysanthopoulos
(Embaixador ad.H)
Uma geração perdida lutando pela sua sobrevivência. Uma geração perdida devido à estupidez e ganancia da humanidade. A União Europeia a comer os seus próprios filhos. Será isto, um pesadelo da mitologia Grega? Antes fosse. Não, é a realidade da Atenas de hoje, captada há dois anos atrás, pela lente de Pauliana Valente Pimentel, que foi capaz de captar a agonia da juventude, na sua luta em não se perder. Ela mostra-nos, com todos os detalhes, os sinais de stress nos seus rostos, as difíceis circunstancias, mas, apesar das dificuldades, mostra também, a felicidade inocente da juventude. E ela consegue isso com uma simplicidade eficaz. A juventude que é aqui abordada, sabe que há outros jovens em condições piores do que a deles, e nesse sentido consideram-se afortunados. Seria interessante fazer um “Youth of Athens” dois anos depois e abordar novamente os mesmos jovens para ver como se saíram nesta sua batalha. Desejamos-lhes bem, mas tememos o pior, pois a situação na Grecia se deteorou seriamente desde então. Muitos deixaram o seu país para lutar num outro lugar. Esta não é a solução. Solidariedade entre eles e o retomar dos valores tradicionais da Grécia, são necessários como base, para uma saída ao presente impasse. Mas, através das suas fotografias e video, Pauliana envia uma mensagem desesperada à União Europeia. “ Parem de comer os vossos filhos porque não há futuro sem eles”.